quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Conto: "O monólogo da depressão"

        A cada passo uma sentença. conto o monólogo da depressão, conto escrito pelo blog trilha dos contos, um conto dramático e comovente

        O que será dessa vez? É certeza?

        A cada passo uma lembrança, uma história... Todas as pessoas que me amaram... Não, impossível... Todas as pessoas que eu amei. 

        Os momentos felizes, as preocupações, as adversidades. O que falta? O arrependimento, e com ele todas as dores que me acompanharam a vida toda. Agora cada passo é um motivo de martírio, uma dor indescritível emana do meu peito. Dando o próximo passo eu sei, tudo dói. O arrepio na espinha e advento a dor que percorre o corpo todo. É difícil respirar. 

         O choro.. Para que chorar, não faz sentido, não tem necessidade. Afinal, ninguém choraria mesmo, e isso não faz mais diferença.

         Os passos se tornam cada vez mais lentos, e respirar se torna cada vez mais difícil. Não sei se por instinto o meu corpo tenta parar, ou se a perspectiva do tempo foi modificada pelo meu pesar. Agora pensando no passado, o suco gástrico sobe o esôfago. Prendendo, penso como com o passar do tempo foi cada vez mais fácil fazer isso. Primeiro as palavras, depois meu jeito agora no ato final o vômito.

         Agora me vem outro pensamento, nunca existiu amor. Isso não é amor. Agora a cada passo deixo de me sentir. Os pés que tocam o chão, o frio, a roupa sobre a pele, o vento que passa sobre os meus cabelos, eu não sinto mais nada. Só sinto a dor, como se fosse uma grande ferida, uma ferida errante. E essa dor é a única marca da minha existência, não existe nada mais.

         A cabeça dói tanto que sequer consigo pensar direito, agora quase nada faz sentido. Mesmo assim continuo andando com a certeza que não haverá mais dor, tudo passará...

         Faltando um degrau, eu penso sobre tudo o que já passei. As lições que aprendi e porque agora elas não fazem mais sentido para mim. Tudo perdeu a razão de ser e nada vale mais a pena.  

         Sob a laje, eu vejo um lindo entardecer gelado, com um por do sol aparentemente amargo e desconcertantemente lindo. 

         Me aproximando da beirada e abrindo os braços, me sinto abraçada e afagada por algo que eu simplesmente não entendo. Fechando os olhos uma música vem a minha mente, algo que só aparecia em meus melhores momentos. Tão raros... Então nas minhas memórias eu começo a cantarolar:  

"Maybe, sometimes
We've got it wrong, but it's alright
The more things seem to change
The more they stay the same
Oh, don't you hesitate"

        Então, tendo uma confirmação, sem hesitação eu pulo...

        Meu amor. Eu sei que ninguém disse isso para você, mas a culpa não é sua. Nunca foi. Sempre tentei... Não, sempre tentamos o máximo. No limite tentamos tudo o que sabíamos para essa dor ir embora, mas ela nunca se foi e ainda houve momentos em que ela vinha maior. Então a culpa não é sua.

         Queria te dizer que você é especial para mim, eu sei que ninguém nunca disse isso para você, mas você é única e insubstituível. Você é linda, maravilhosa e pura. Em todo o amor que você sentiu, por todas as coisas, sempre houve pureza em todas essas ações. Sempre sonhei com você... Com nós... Mudando de vida, sem sofrimento ou dor, mesmo sabendo que só eram mentiras da minha cabeça eu continuava sonhando dia atrás dia. Isso nunca foi o suficiente para mim.

         Nesse último momento eu só queria dizer que te amo de mais, te amo tanto que não aguentava mas ver você sofrer. Eu não aguentava mais sofrer...

        Eu te amo.

         

Veja também → Conto: "O arrependimento"

 

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