quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Conto: "O monólogo do medo"

Conto monólogo do medo que trás uma hístoria ou poema sobre o nosso apego a sentimentos que só se tornam ruins pelo próprio apego.
Sobre os olhos fechados me vejo em reflexo, sobre o reflexo me vejo partida.
E como em um caminho de espelhos encaro as sombras que me cercam.

Com cântico suave eu viajo, em caminhos já percorridos.
Em silêncio permaneço ao mesmo tempo em que não me calo.
Nesse caminho penoso, a cada pensamento estremeço.
O que já passei, o que vou passar...
Finjo não olhar as sombras, mas elas sempre estão lá.

Em dado momento me esmaeço, como se todo o meu ser fosse aquoso.
A falta de densidade ultrapassa a realidade e o meu ego se desfaz.
A dor vem derradeira, um pequeno aperto no peito.
As sombras gritam, e em silêncio abandono a realidade.
Submergindo e me perdendo eu continuo.

Gritem, gritem, gritem...
O barulho continua, atravessa barreiras e me ensurdeço.
Ainda caindo mais e mais dentro de mim me vejo.
Os espelhos ainda estão lá, e com eles todos com quem não quero falar.
E como queiram chamar, eu sei que todos são egos.

Dentro da bolha eu desperto.
A frente uma grande estante.
Vidros coloridos com etiquetas e nomes.
Amor, Carinho, Solidão, Tristeza...
São inumeráveis.

Agora o corpo volta ao que era, com ego inteiro e partido.
Olhando dentro de mim percebo um corpo rijo e aflito.
Com os braços cruzados sobre o peito seguro algo.
Tão grande é o esforço que parece um tesouro.
Mantendo a calma eu solto os braços enquanto analiso um lugar vazio na estante.

O medo estava lá, com apego e reminiscências.
Mesmo com dor eu o sustentava, e em agonia eu o adorava.
No ápice da exaustão desesperada percebi meu erro.
Mas na tentativa de coloca-lo em seu lugar, a prateleira se distanciava mais e mais.
Percebendo que não haveria mais tempo, eu parti.

O cântico ao seu fim, os sinos tocam.
Abrindo os olhos percebo minhas sombras...

 

Veja também → Conto: "O monólogo da depressão"

 

 

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