Em um dia ensolarado, embaixo de uma macieira, Julia está sentada com seu caderno favorito nas mãos. Sua capa de textura bege já tão desgastada demonstrava o quanto tinha sido usado, afinal são parceiros de muitas histórias, desde sua tenra adolescência.
A magia de escrever para ela sempre fora um toque de sua personalidade. Ao escrever sentia-se livre, solta, como se nada a impedisse. Coisas de dentro dela que não teria coragem de dizer, mas ao seu caderno, tudo se tornava fácil.
Agora ela estava ali com ele em suas mãos, sentimentos e lembranças indo e vindo da sua mente e coração. Julia olha ao seu redor e ama a paisagem que vê, a casa de sua avó materna, tão querida e amada que sempre lhe esteve presente. Estar nesse lugar lhe dava aconchego. Aconchego que não sentia há meses...
Julia sente seus olhos se marejarem mas se esforça para não chorar. Prometeu a si mesma que não cairia mais uma lágrima de seus olhos.
Mais uma vez o caderno no seu colo a desafia, Julia ainda não o abriu. Estava resistindo... Mas se o caderno traz tantas boas lembranças porque não abri-lo?
O sol em sua pele revelam as marcas e a dor da sensação do que viveu. Marcas de um "amor" que um dia ela achou que lhe pertenceu, mas foi devastador. Um "amor" que lhe arrancou os brilhos dos olhos e a alegria de viver por momentos não tão breves... Jamais imaginaria viver isso, ainda mais estar com seu caderno favorito no colo sem coragem de abrir e voltar ao tempo em que era feliz, em que preocupações e dores não existiam para ela. Mas Julia sabia qual era ao gosto do amor, pois o tinha sentido em sua família, então porque se deixou levar por palavras mansas, beijos enganosos e dores que em sã consciência jamais permitiria? Não sabia dizer... Sabia sentir, e sentir com amargura tudo o que vivera.
Imersa em seus pensamentos, Julia surpresa, percebe que delicadamente pousa em sua perna uma borboleta preta com detalhes laranjas, singela e graciosa. Seus pensamentos se desvanecem e um sorriso tímido se esboça em seus lábios. O vento em seu rosto brinca com seus cabelos e lhe é como uma confirmação sobre o que está pensando. Talvez essa seja a resposta de um novo começo, de uma nova tentativa. Nem tudo está perdido.
A borboleta levanta vôo e Julia continua sentada a admirar sua bela visitante desaparecer no céu tão azul e ensolarado. A borboleta levou consigo uma parte da tristeza de seu coração. Julia agora com esperança, sente-se capaz de folhear seus momentos marcantes e felizes, nem que fosse por um instante, nem que fosse por recordação.
A certeza que invadia seu ser lhe dizia que sua história não tinha acabado, o começo dela repousa em seu colo, um capítulo difícil se passou e o fim de tudo está tão distante que não se pode ver.
Basta acreditar.
A história de sua vida apenas continua.
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